Butantan entregará doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde neste domingo

SÃO PAULO — O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que determinou ao Instituto Butantan a entrega das doses de CoronaVac ao Ministério da Saúde ainda neste domingo, 17, para que sejam distribuídas a outros estados brasileros. O imunizante teve aprovado seu uso emergencial nesta tarde pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “O Brasil tem pressa para salvar vidas”, escreveu, no Twitter.

Doria acompanhou do Hospital das Clínicas, em São Paulo, a reunião da Anvisa que decidiu sobre o uso, em caráter emergencial, das vacinas do Instituto Butantan e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ele foi ao local ao lado do vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), e do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.

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Em coletiva, Covas detalhou a quantidade de doses que serão enviadas ao governo federal. De um total de 5.994.576 doses disponíveis no Butantan, 4.636.936 estão reservadas para a aplicação em outros estados brasileiros. As demais 1.357.640 serão distribuídas no estado de São Paulo.

– Isso é o que está previsto no próprio Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde — destacou Dimas Covas.

Técnicos e diretores da Anvisa se reuniram desde a manhã em Brasília, para votar o uso emergencial das vacinas CoronaVac, produzida em parceria entre o Butantan e farmacêutica Sinova, e da Astrazeneca, desenvolvida pela Universidade de Oxford, em parceria com a multinacional farmacêutica de mesmo nome, e que deverá ser produzida pela Fiocruz a partir de fevereiro.

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Em nota, o Instituto Butantan informou que a decisão da Anvisa comprova a segurança e a eficácia da vacina contra o novo coronavírus. “Os testes clínicos realizados com 12,5 mil voluntários já evidenciaram que o imunizante é capaz de evitar o agravamento dos infectados e hospitalizações, além de salvar vidas. Com o registro da vacina pelo órgão regulador, será possível agora encaminhar rapidamente as doses já prontas ao Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde para o início da imunização dos brasileiros. Em menos de um ano desde o registro do primeiro caso de COVID-19 em território nacional, o Butantan conseguiu viabilizar uma vacina eficiente para a população brasileira. Até abril o instituto fornecerá 46 milhões de doses para o país”.

Disputa pelas doses

Na última sexta-feira, 15, o Ministério da Saúde exigiu ao Instituto Butantan a entrega “imediata” das 6 milhões de doses de CoronaVac existentes no país e não aceitou manter com São Paulo as que seriam destinadas ao estado. A exigência ocorreu depois do fracasso do governo brasileiro na tentativa de importar da Índia de 2 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca.

Em outubro, o presidente Bolsonaro chegou a desautorizar um acordo firmado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que previa a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. Em resposta ao comentário de um internauta que pedia que a vacina não fosse comprada para evitar a “interferência da ditadura chinesa”, Bolsonaro negou a compra. Agora, correrá o risco de começar a vacinação com a CoronaVac.

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Em guerra aberta contra o governo Jair Bolsonaro (sem partido) pelo crédito do início da imunização, o governador poderá vacinar, num primeiro momento, apenas grupos pré-definidos nos estudos entregues à Anvisa – idosos, profissionais de saúde, indígenas e quilombolas. Para comercialização do imunizante e ampla vacinação sem necessidade de especificação de grupos é preciso obter o registro final da vacina.

A CoronaVac é produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Já a vacina de Oxford é desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a universidade britânica e capitaneada no Brasil pela Fiocruz.

Falta de dados

A Anvisa afirmou que o Instituto Butantan não enviou dados importantes sobre a vacina, como informações sobre anticorpos gerados na fase 3 do estudo, quando o imunizante é testado amplamente.

Entre as “incertezas” apontadas, a área técnica destacou: a duração da proteção proporcionada pela vacina, seu efeito em idosos e outros grupos específicos, como pessoas com comorbidades.

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Também não pode ser avaliada a eficácia da vacina em pessoas que já tiveram a doença. A reportagem contatou o Butantan mas ainda não teve retorno sobre as ponderações da Anvisa sobre a CoronaVac.

Os dados incluem os voluntários do teste clínico que contraíram a doença, mas tiveram casos leves, o que mostra que o imunizante é capaz de proteger contra formas graves da Covid-19. A vacina supera o índice recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A autorização emergencial de uso permite a imunização apenas em grupos pré-definidos nos estudos entregues à Anvisa. Para comercialização do imunizante e ampla vacinação sem necessidade de especificação de grupos é preciso obter o registro final da vacina.

Com a decisão da Anvisa, as vacinas de Oxford e a CoronaVac poderão ser aplicadas em grupos específicos a partir do momento que os laboratórios produtores forem comunicados da decisão.

No sábado, a agência imformou que o pedido de uso emergencial da vacia russa Sputnik V havia sido rejeitado por falta de requisitos mínimos, como a autorização de testes da fase 3 no Brasil.