Covid-19: ‘Passaporte da vacina’ tem ampla adesão no primeiro dia, mas pegou muitos de surpresa

No primeiro dia de vigência do chamado “passaporte da vacina” na cidade do Rio de Janeiro, alguns dos ambientes contemplados pela determinação da prefeitura amanheceram lotados como sempre — com a diferença de que, agora, quem não se vacinou não entra. O cenário de ampla adesão à medida se evidenciou, por exemplo, nas academias, que apresentaram movimentação intensa nesta quarta-feira de sol e calor.

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Antes de gastar aquelas duas horinhas diárias com a própria saúde, Denise Ribeiro tirou uns segundos para cuidar da saúde coletiva. No balcão da academia que frequenta, em Copacabana, na Zona Sul, a agente de viagens teve de apresentar o comprovante da segunda dose da vacina contra a Covid-19, recebida na sexta-feira. No caso dela, que tem 50 anos, a comprovação da segunda injeção só será necessária a partir desta quinta-feira. Mas ela quis mostrar já hoje que estava em dia com sua parcela de contribuição contra o coronavírus.

— Acho ótimo o que está acontecendo. Com a pandemia, é uma forma de prevenir a disseminação do vírus. Precisamos garantir que todos estão vacinados. Trabalho com viagens, um dos setores mais afetados pela pandemia, e posso dizer que a vacina é nossa maior esperança — afirma. — Me sinto muito mais segura, pois tenho criança e idoso em casa.

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Esta é também a opinião do barbeiro Marcelo Elmescany Souto, de 42 anos, que no entanto foi pego de surpresa com o início da exigência, ao chegar à academia. Como ele, vários alunos foram barrados nas catracas da Smartfit da Avenida Nossa Senhora de Copacabana na manhã desta quarta-feira. Pelos celulares, todos corriam para baixar o aplicativo ConecteSUS ou para pedir a parentes uma foto da caderneta de vacinação que ficou em casa. Durante a visita da reportagem ao estabelecimento, que durou cerca de uma hora, nenhum dos barrados, contudo, se manifestou contrariamente à medida.

— Acho que é válido — diz Souto. — Muito importante estar com a vacina. Todo mundo está se vacinando. Sem vacina, não tem como malhar. Sempre vai ter gente que vai polemizar. Mas, se tem que fazer, tem que fazer.

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A medida surpreendeu especialmente os turistas. O funcionário público Eugênio da Silva, de 66 anos, veio de viagem de Santa Catarina, onde tomou ambas as doses da vacina. Embora apoiasse a iniciativa do passaporte, ele lamentou ter de ficar barrado na porta da academia por não ter conseguido instalar o aplicativo ConecteSUS na manhã desta quarta-feira. O mesmo problema foi relatado por outros alunos.

— É uma iniciativa muito boa para todo mundo. Protege todo mundo. Só é uma pena que o aplicativo não esteja funcionando. Precisamos malhar, manter a atividade — afirmou.

 

Aluno de uma academia em Rocha Miranda, Genilson Monteiro apresentou o comprovante de vacinação contra a Covid-19
Aluno de uma academia em Rocha Miranda, Genilson Monteiro apresentou o comprovante de vacinação contra a Covid-19 Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

 

A equipe da academia de ginástica New Corpore, em Rocha Miranda, na Zona Norte do Rio, cadastra o “passaporte da vacina” de seus alunos a partir da apresentação do cartão de vacinação. Na recepção o documento é incluído no sistema, assim, é necessário apresentá-lo uma única vez, explica a gerente, Bárbara Vanessa Ferraz:

— O aluno chega na academia, apresenta o cartão de vacinação, a recepcionista escaneia esse documento, faz o lançamento dessa documentação no cadastro pessoal do aluno. Feito isso, a gente coloca uma mensagem na tela de acesso dele, em que toda vez que ele coloca a digital para acessar a academia vai estar escrito a mensagem “cartão de vacina ok”. Assim a gente não precisa ficar pedindo novamente essa documentação.

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Para a aluna Rosilane da Silva Vicente, a exigência de comprovar a vacinação traz uma sensação de segurança.

— A vacinação é para nos deixar imune dessa doença que acabou com tantas vidas e acabou com tanta família, e a apresentação do cartão na academia é interessante porque ela consegue acompanhar as pessoas que realmente estão se vacinando, ou não, para poder não chegar aqui desprotegidas ou até contagiar outras pessoas que estão aqui — destacou.

O aluno Genilson Monteiro, que também apresentou seu cartão com registro da dose contra a Covid-19, completou:

— A pessoa está se cuidando, né? Está tomando a responsabilidade da vacinação e cumprindo as regulamentações da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

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A apresentação dos documentos pode acabar criando uma fila de espera, que é de responsabilidade dos espaços evitar aglomerações e conferir, antes da entrada de cada pessoa em suas dependências, mediante apresentação de comprovante vacinal juntamente com documento de identidade com foto.

A designer Vanessa Moreira, de 43 anos, surpreendeu-se com uma longa fila na entrada de filial da academia Bodytech na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, quando levava o filho para aula de ginástica e natação na manhã desta quarta-feira. Os adultos estavam tendo que se cadastrar com um comprovante de vacinação contra a Covid-19, o que retardou o seu ingresso no local em cerca de 15 minutos.

— Demorou um pouco, mas eu acho importante ter esse controle, pela segurança de todos e pelo incentivo à vacinação. Aos poucos, os estabelecimentos que devem exigir o comprovante vão ficando mais ágeis no processo, e tudo vai andar mais naturalmente — disse ela.

De acordo com a determinação da Prefeitura do Rio, o comprovante passa a ser exigido em:

  • academias de ginástica, piscinas, centros de treinamento e de condicionamento físico e clubes sociais
  • vilas olímpicas, estádios e ginásios esportivos
  • cinemas, teatros, salas de concerto, salões de jogos, circos, recreação infantil e pistas de patinação
  • atividades de entretenimento, exceto quando expressamente vedadas
  • locais de visitação turísticas, museus, galerias e exposições de arte, aquário, parques de diversões, parques temáticos, parques aquáticos, apresentações e drive-in
  • conferências, convenções e feiras comerciais

Inicialmente, o “passaporte da vacina” estava previsto para ter início no último dia 1º. Apesar da prorrogação, a nova regra pegou desprevenidos uma família e amigos em viagem a passeio no Rio. No guichê de atendimento do Corcovado, os turistas de Mato Grosso tentavam recuperar o valor dos ingressos, comprados na segunda-feira, antes do decreto entrar em vigor.

A viagem à cidade maravilhosa, com chegada na última sexta-feira, foi desfrutada com passeios apesar da falta da primeira dose da vacina de parte do grupo, vindos da cidade de Sinop, onde houve atraso na vacinação. Antes de voltarem a um posto do município para se imunizarem, partiram rumo ao Rio. Nesta manhã, o roteiro planejado foi encerrado mais cedo.

— Chegamos com o ingresso, para um passeio para cinco pessoas, e não pudemos entrar. Devido a morarmos no interior, lá acabou a vacina, há cerca de um mês, quando era a minha data. Além desse, teria mais um passeio hoje, no Pão de Açúcar. Vamos ter que cancelar — disse o turista de 32 anos que não quis se identificar. — Não sabíamos disso. Na hora de comprar não falavam nada, ninguém avisou.

Apressado para voltar ao guichê de atendimento, ele completou:

— Vou ter que vacinar, se não daqui a pouco não entro nem no avião — riu.