Estudo diz que vacina contra tuberculose pode ter reduzido mortalidade por Covid no Brasil

RIO — Há, neste momento, 235 vacinas contra o coronavírus em alguma fase de teste no mundo. Mas um estudo americano apresentado nesta quinta-feira sugere que uma velha aliada da medicina, a vacina contra a tuberculose BCG, pode ter reduzido a taxa de mortalidade da Covid-19 em países como o Brasil.

Os cientistas dizem que ainda é muito precipitado recomendar a BCG para evitar o agravamento da Covid-19, mas defendem que seus efeitos devem ser mais bem investigados.

Realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos e da Universidade Estadual da Virgínia, o estudo foi publicado na revista PNAS, da Academia Americana de Ciências.

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Ele analisa e compara a taxa de mortalidade por Covid-19 de países europeus, dos Estados Unidos, do Brasil e do México.

Os cientistas verificaram que a taxa de mortos por milhão era negativamente correlacionada com a imunização por BCG. Quanto maior o percentual de pessoas vacinadas por BCG, menor a mortalidade por Covid-19. Ela não preveniria a doença, mas evitaria seu agravamento, ao menos, em tese.

Rio x NY

Segundo Carolina Barillas-Mury e seus colegas, isso explicaria por que estados e cidades densamente povoados, com altas de taxas de infecção por coronavírus, mas com alta imunização por BCG, como São Paulo e Rio de Janeiro, registraram menor taxa de mortalidade do que Nova York, por exemplo.

Os cientistas descobriram que a mortalidade por Covid-19 nos estados americanos de Nova York, Illinois, Lousiana, Alabama e Flórida, todos sem vacinação universal contra BCG, era significativamente mais alta do que em estados de países com imunização universal com ela, como Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, no Brasil; e o estado do México e a capital mexicana.

“Isso é excepcional se considerarmos que esses lugares na América Latina têm densidade populacional maior que a dos estados americanos analisados, incluindo Nova York”, escreveram os cientistas na PNAS.

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Na Europa, foram encontrados resultados semelhantes. Na Europa Ocidental, onde nunca houve vacinação em massa com a BCG, a taxa de mortalidade por Covid-19 é 9,92 vezes maior que a de países da Europa Oriental, onde os países em sua maioria tem programas ativos de vacinação com BCG.

A BCG teria um efeito contra a Covid-19 por limitar a ação do coronavírus. Ela estimularia a resposta inata do sistema imunológico não apenas contra o bacilo da tuberculose, mas contra a infecção por outros patógenos e agressões, como o câncer. Já havia sido observada ação da BCG para ativar o sistema de defesa contra o câncer da bexiga, por exemplo.

Em seu estudo, os cientistas dizem que a identificação dessa relação de redução de mortalidade e BCG evidencia a “necessidade de mais pesquisas sobre os efeitos da vacinação pela BCG sobre a Covid-19 e também como forma de evitar a forma grave da doença”.

Esse não é o primeiro estudo a fazer a associação entre a BCG e o combate da Covid-19, mas é o maior até agora.

Os cientistas destacaram que a “associação consistente” entre a imunização por BCG e a redução da severidade da Covid-19 observada nesses estudos epidemiológicos é surpreendente, mas não suficiente para estabelecer uma relação de causalidade.

Eles acrescentaram que estudos clínicos em curso na Holanda e na Austrália, em que profissionais de saúde recebem ou BCG ou uma injeção de placebo (inócua), poderão determinar em que medida a imunização contra a tuberculose confere proteção contra a Covid-19.

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