‘Foi uma vitória da política’, diz Paes em primeiro discurso após vencer eleições no Rio

RIO – Prefeito eleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM) afirmou neste domingo, em seu primeiro discurso, após as urnas confirmarem seu retorno ao comando do município, que a vitória representa o fim de um “radicalismo” contra a política e os políticos. Paes discursou pela primeira vez após o resultado no Hotel Nacional, em São Conrado, Zona Sul da cidade, ao lado do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, seu colega de partido.

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Até as 19h43, com 98,47% das urnas apuradas, o ex-prefeito tinha 64,11% dos votos para voltar ao cargo, contra 35,89% do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que buscava a reeleição. A partir de janeiro do ano que vem, Paes estará em seu terceiro mandato à frente do Rio. Ele já comandou a cidade por oito anos, em dois mandatos consecutivos: entre 2009 e 2012 e entre 2013 e 2016, antes de ser sucedido por Crivella.

— Foi uma vitória da política. Passamos os últimos anos radicalizando a política brasileira. O resultado desses quadros de extremos, de muito ódio, de muita divisão, não fez bem a nenhum de nós cariocas e brasileiros — afirmou Paes, cumprimentando prefeitos eleitos em outras cidades neste segundo turno: — Celebro, comemoro e cumprimento prefeitos eleitos hoje. Há uma demonstração de confiança naqueles que se expõem e estão sob os holofotes da vida pública. Precisamos falar, dialogar com as pessoas. Não podemos ficar com esse sentimento ruim. E o Rio quer ser vanguarda nisso: vamos conversar com todo mundo.

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Paes abriu o discurso agradecendo à própria família e a Rodrigo Maia. Ele afirmou que o parlamentar foi “muito importante” na vitória e, ao ser questionado sobre o combate à pandemia de Covid-19, declarou que Maia o ajudará a dialogar com o governo federal e o Ministério da Saúde.

— A prefeitura do Rio não será uma trincheira de nenhuma ideologia política. Vamos ter um diálogo institucional com o presidente Jair Bolsonaro, o governador Cláudio Castro, pensando no bem dos cariocas. E o presidente Rodrigo Maia tem um papel importante na estabilidade do Brasil, nos ajudará nesse diálogo.

Pandemia

Além das referências a Maia, Paes cumprimentou publicamente Bruno Covas (PSDB) pela reeleição em São Paulo e disse que a gestão paulistana foi de “muitas entregas”. Ele também direcionou um agradecimento aos cariocas:

– Queria fazer um agradecimento a todos os cariocas que foram às urnas hoje, confiaram nas nossas propostas e na possibilidade de tornar o Rio uma cidade que olhe para frente. Tiveram confiança em olhar para o futuro pensando no Rio como um lugar melhor. Os cariocas disseram sim às nossas propostas. Quero anunciar que o Rio está livre do seu pior governo, o mais omisso, despresparado e preconceituoso.

Ao longo do discurso e da entrevista coletiva, Paes fez um convite para que os cariocas comemorem a “retomada da cidade” e descreveu o Rio como “um lugar especial” que precisa voltar a experienciar uma gestão voltada à diversidade. Ele afirmou ainda que não terá mais finais de semana livres até a posse, em janeiro, pois pretende “dar o sangue” durante o período de transição que começa nesta segunda-feira.

— Quero dizer a todos os cariocas, de todas as fés, orientações, cores de pele, daquilo que acreditam, do ritmo que gostam ou não que eles podem confiar numa cidade ampla e diversa. Vamos voltar a dar certo, olhar para frente com muita esperança. A vitória é importante independentemente das forças políticas que foram às urnas. Todos aqueles que confiaram na nossa proposta e queriam dar um não muito contundente a esse governo reacionário que tomou conta da nossa cidade nos últimos quatro anos — disse Paes.

Ele reiterou as críticas que já havia feito a Crivella durante toda a campanha:

— Foi ruim na gestão, piorou a vida das pessoas e olhou a cidade com muito preconceito. Nos próximos quatro anos, vocês (cariocas) vão ter um prefeito que vai lutar, dar o sangue. Aqui há uma pessoa mais experiente que ganhou as eleições aos 38 anos, em 2008, e que durante duas oportunidades teve a honra de ser prefeito. Estou mais maduro, mais experiente para encarar os desafios dessa cidade. E, a partir de hoje, a gente vai fazer o Rio dar certo. Foi uma eleição de amor pela nossa cidade.

O prefeito eleito também adiantou que pretende atuar para que o governo federal libere cerca de 450 mil testes de Covid-19 para o Rio, dos cerca de 6 milhões que foram adquiridos pela Saúde e não utilizados. Ele repetiu, ao ser questionado, que não planeja decretar lockdown na cidade e que pretende investir em tratamentos terapêuticos da doença. Há ainda a intenção de reativar 100 leitos da rede municipal para dar vazão às internações.

Paes discursou para jornalistas no Hotel Nacional, a poucos metros do condomínio em que vive com a família e de onde acompanhou o início da apuração neste segundo turno. Ele se emocionou ao ver as notícias da vitória pela televisão, sentado ao lado da mulher, Cristine Assed, com quem comemora 18 anos de casado. O prefeito eleito chegou à coletiva acompanhado de Cristine e dos filhos Bernardo e Isabela, de 16 e 15 anos, respectivamente. Rodrigo Maia esteve acompanhado da mulher, Patrícia Vasconcelos.

No mesmo Hotel Nacional, Paes passará a noite reunido com aliados políticos. Entre eles, os deputados federais Pedro Paulo (DEM) e Marcelo Calero (Cidadania), coordenador da campanha.

Passo à frente

O retorno à prefeitura do Rio marca uma curva de Paes em relação à dupla derrota política que ele sofreu, em sequência, em 2016 e 2018. Primeiro, ele tentou emplacar Pedro Paulo como seu sucessor no município e não conseguiu. E, depois, lançou a própria candidatura ao governo do estado, também sem êxito.

A busca pelo comando da capital fluminense foi impulsionada, entre outros fatores políticos, pela aprovação do município há dois anos, na eleição de 2018: mesmo perdendo o cargo de governador para Wilson Witzel (PSC), Paes foi o mais votado entre os eleitores do município que havia comandado.

Ao longo de toda a campanha, iniciada em setembro, o candidato Paes se apresentou como gestor eficiente e sem padrinhos políticos, buscando desgastar adversários por alianças políticas feitas por eles com lideranças nacionais.

No primeiro turno, ficaram para trás, entre outros candidatos, Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT). No segundo turno, foi a vez de Crivella. Paes aparecia como primeiro colocado em pesquisas de intenção de voto realizadas pelo Ibope e o Instituto Datafolha desde a pré-campanha.

Para vencer, a equipe de Paes mirou não só na desconstrução de adversários como na necessidade de reforçar a imagem do próprio candidato. Ele foi surpreendido por uma operação de busca e apreensão em sua residência pouco antes do início da campanha, num processo em que é acusado de corrupção passiva pelo Ministério Público (MP).

Já durante os compromissos que antecederam a votação, teve os bens bloqueados em meio a uma ação judicial sobre subsídios que concedeu a empresas de ônibus. Em entrevistas, discursos e vídeos de campanha, Paes afirmou que as denúncias contra ele “não paravam em pé”.

No segundo turno, a rivalidade com Crivella dominou o debate político, em meio a trocas de acusações e ofensas. Paes colou no adversário o rótulo de “pai da mentira”, utilizando um versículo bíblico que faz referência ao diabo, e Crivella atuou para desmoralizá-lo através de afirmações que dialogavam com as chamadas “pautas de costumes” — parte delas era inverídica.

Fonte: Extra