Número de mortos em enchentes na Europa passa de 180, e Merkel pede ações ‘mais rápidas’ contra mudança climática

BERLIM — A chanceler alemã, Angela Merkel, visitou neste domingo áreas devastadas pelas enchentes na Alemanha, no que já é o pior desastre natural da nação em meio século, e exortou uam ação mais rápida contra a mudança climática. O número de mortos no país e na Bélgica após as chuvas já passou de 180, além das centenas de desaparecidos e da destruição.

Merkel chegou pouco antes das 13h (8h de Brasília) à cidade de Schuld, no estado de Renânia-Palatinado, um dos dois mais atingidos no Oeste da Alemanha, onde a cheia de um rio varreu casas e deixou as ruas repletas de entulho.

— A soma de todos os eventos que estamos testemunhando na Alemanha e a força com a qual eles ocorrem sugerem que têm algo a ver com a mudança climática — disse ela aos moradores de Adenau, na Renânia-Palatinado, prometendo ajuda financeira à região. — Temos que nos apressar, precisamos ser mais rápidos na luta contra a mudança climática.

Até este domingo, o desastre matou pelo menos 157 pessoas na Alemanha e outras 27 na Bélgica, elevando o número total para 184. Em condições perigosas, equipes de resgate de ambos os países seguem procurando sobreviventes. A polícia alemã, no entanto, afirma que mais corpos vão aparecer à medida que a água recue.

Neste domingo, o Papa Francisco expressou sua “solidariedade” à população afetada. Fortes chuvas também atingiram Suíça, Luxemburgo e Holanda.

Tanto na Renânia-Palatinado e na Renânia do Norte-Vestfália a água começou a recuar, e a preocupação se voltou para a região sul da Alta Baviera, onde fortes chuvas inundaram porões e causaram inundações de rios e riachos na noite de sábado.

Na Áustria, as equipes de emergência nas regiões de Salzburgo e Tirol estavam em alerta. A histórica cidade de Hallein, perto da fronteira alemã, estava coberta de água.

O governo alemão já havia anunciado que pretende criar um fundo especial para lidar com os danos, cujo custo pode chegar a bilhões de euros.

O desastre teve fortes implicações políticas na Alemanha, que irá realizar eleições gerais em 26 de setembro, marcando o fim dos 16 anos de Merkel no poder. Especialistas afirmam que o aquecimento global está tornando os eventos climáticos extremos mais frequentes, e os candidatos que buscam suceder Merkel estão pedindo mais ações para combater esse problema.

O democrata cristão Armin Laschet, primeiro-ministro estadual da Renânia do Norte-Vestfália e favorito na disputa pelo cargo, pediu a aceleração da luta contra as mudanças climáticas. Laschet, no entanto, foi filmado conversando e rindo enquanto o presidente Frank-Walter Steinmeier expressava sua dor às famílias afetadas na devastada cidade de Erftstadt.

“Laschet ri enquanto o país chora”, publicou o jornal Bild. Mais tarde, ele se desculpou no Twitter pelo momento “inapropriado”.

Na noite de sábado, apenas na cidade de Bonn, na Renânia do Norte-Vestfália, onde vivem cerca de 600 mil pessoas, mais de 300 ainda estavam desaparecidas.

As dimensões do impacto da inundação estão gradualmente se tornando mais claras na Alemanha, à medida que os danos aos edifícios, alguns dos quais serão demolidos, foram avaliados, e os esforços para restaurar os serviços de gás, eletricidade e telefone avançaram.

Em algumas áreas, os soldados usaram veículos blindados para remover o entulho das ruas. Na Renânia do Norte-Vestfália, mergulhadores procuram casas e veículos submersos.

Rover Lewentz, ministro do Interior da Renânia-Palatinado, disse que mais de 670 pessoas ficaram feridas no estado.

— Vivi aqui toda a minha vida, nasci aqui e nunca vi nada parecido — disse Gregor Degen, um padeiro da cidade de Bad Neuenahr Ahrweiler.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro Alexander de Croo visitaram as áreas inundadas de Rochefort e Pepinster, na Bélgica, no sábado. Além dos 27 mortos, muitas pessoas ainda estão desaparecidas no país.

“A Europa está com vocês”, tuitou Von der Leyen após a visita. “Nós os acompanhamos em sua dor e estaremos com vocês na reconstrução.”