Prefeitura de Niterói decide implementar barreiras sanitárias nos principais acessos à cidade a partir desta quarta

O prefeito de Niterói, Axel Grael (PDT), decidiu implementar barreiras sanitárias nos principais acessos à cidade da Região Metropolitana do Rio a partir desta quarta-feira. A medida vem em meio a outras ações para tentar conter o avanço da pandemia da Covid-19 no município. Na última sexta-feira, na contramão de outras cidades do estado – incluindo a capital, que relaxou algumas normas – a Prefeitura de Niterói já havia ampliado as restrições em vigor, que valem até o dia 18 de abril.

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A decisão foi tomada após uma reunião entre o prefeito e o comitê científico da cidade, na tarde desta segunda-feira. As barreiras ficarão espalhadas em alguns dos mais importantes de acesso ao município, tanto na divisa com São Gonçalo, quanto na com Maricá. O bloqueio também acontecerá na saída da Ponte Rio-Niterói, que liga a cidade à capital do estado.

A princípio, as barreiras sanitárias terão medição de temperatura, e impedirão o acesso apenas de quem apresentar febre, um dos sintomas da Covid-19. O prefeito Axel Grael vai confirmar a medida em uma live nas redes sociais ainda na noite desta segunda-feira.

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O decreto publicado pela Prefeitura de Niterói no último sábado manteve suspensos o atendimento presencial de bares, restaurantes, boates, museus, bibliotecas, cinemas, teatros, salões de beleza, barbearias, clubes, quiosques e academias. O banho de sol e de mar nas praias também seguiram proibidos.

O novo texto, porém, aumentou o grau das restrições em alguns pontos. A prefeitura também passou a vetar, a partir desta segunda-feira, que restaurantes funcionem no sistema take away, quando o cliente passa no estabelecimento para buscar a compra: agora, somente poderão trabalhar com delivery. O decreto prevê ainda um maior controle nos supermercados, que agora só poderão vender produtos essenciais, como alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza.

Sobrecarga por vizinhos

Um estudo do Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), detalhou o impacto de cidades vizinhas no sistema de saúde de um município que recebe os pacientes de fora. Registros do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), de abril de 2020 a fevereiro de 2021, por exemplo, indicam que pouco menos de um quinto dos municípios (1.029, ou 18,5%) conseguiram atender a mais de 10% dos casos de seus habitantes com necessidade de UTI ou de unidades de cuidados intermediários. Estas são estabelecimentos de saúde com respiradores e suporte para encaminhamento para UTI.

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Com base em dados como esses, o estudo destaca que a regra na pandemia foi o brasileiro com Covid precisar se deslocar de sua cidade para conseguir atendimento. O deslocamento é um fator de agravamento da doença, além de camuflar focos da pandemia, diz o coordenador do trabalho, Diego Xavier, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde e do Monitora Covid-19.

— Um prefeito não consegue resolver nada. É preciso ação coordenada em nível estadual e nacional. Governadores precisam trabalhar coordenando seus municípios e em conjunto com os estados conectados ao seu — diz Xavier.

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Exemplos são Duque de Caxias e São Gonçalo, “exportadores” de pacientes com Covid-19 para Rio e Niterói, respectivamente, revelam dados do Sivep-Gripe analisados por Xavier, referentes ao período de 3 de março de 2020 a 2 de fevereiro de 2021.

— O município do Rio internou mais pacientes de UTI de Duque de Caxias do que a própria cidade de Caxias. Quase metade dos pacientes de UTI de São Gonçalo foram para Niterói, que absorveu também grande parcela dos casos de Covid-19 de menor complexidade do município vizinho — salienta Xavier.