Técnica de enfermagem e idosa de 80 anos são as primeiras vacinadas contra Covid-19 no Rio, sob o Cristo Redentor

Começou a ser escrito, nesta segunda-feira, do alto do Corcovado, aos pés do Cristo Redentor, o capítulo inicial da tão aguardada história da imunização contra a Covid-19 no Rio de Janeiro, pouco mais de dez meses após a chegada do vírus ao estado. As duas primeiras e emblemáticas doses da CoronaVac foram aplicadas por volta das 18h20, em Dulcineia da Silva Lopes, de 59 anos, e, quase que simultaneamente em Terezinha da Conceição, de 80 anos.

Elas não foram escolhidas por acaso: da linha de frente no combate à doença, Dulcineia, primeira a receber a vacina, é técnica de enfermagem no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, unidade de referência contra o coronavírus na capital, e antes, já havia trabalhado durante oito anos como agente comunitária de saúde. Pertencente ao grupo de risco prioritário da doença, Terezinha, por sua vez, representa uma parcela vulnerável da população. Pertencente ao grupo prioritário de risco, ela foi acolhida num abrigo público em 2015, quando teve sua casa, construída em área de risco no Santo Cristo, demolida pela Defesa Civil.

Terezinha vive no abrigo federal, sob gestão estadual, Cristo Redentor, em Bonsucesso, há quase seis anos. Agora imunizada, ela diz ter planos de voltar a fazer seus artesanatos, e sonha com o dia em que poderá voltar a frequentar a quadra da escola de samba Estácio de Sá, onde, aos 80 anos, desfila na ala das baianas.

— Todo mundo precisa se vacinar contra a Covid. Não tenham medo, a vacina é para que a gente fique com saúde e volte à vida normal — incentivou dona Terezinha.

 

Terezinha, de 80 anos, planeja voltar a fazer seus artesanatos, e sonha em voltar à Estácio de Sá, onde desfila na ala das baianas

Terezinha, de 80 anos, planeja voltar a fazer seus artesanatos, e sonha em voltar à Estácio de Sá, onde desfila na ala das baianas Foto: Governo do RJ / Divulgação

 

Com atraso, as doses chegaram ao alto do Corcovado num helicóptero. Eram por volta das 17h quando um jato contendo cerca de dez caixas da CoronaVac aterrisou no Aeroporto Santos Dumont, de onde parte delas seguiram em escolta até o Cristo Redentor.

A profissional escolhida para aplicar as doses foi a servidora Adélia Maria dos Santos, de 71 anos. Ela trabalha para a Secretaria Municipal de Saúde desde 1979 e, de acordo com o município, foi uma das fundadoras do Programa de Imunização da Cidade do Rio. Adélia atuou na Sala de Imunização da unidade básica de saúde que atualmente é o Centro Municipal de Saúde (CMS) Cecília Donnangelo, era a única enfermeira da unidade e trabalhou nas primeiras campanhas de vacinação contra o sarampo e poliomielite. Também foi chefe de enfermagem no CMS Augusto Amaral Peixoto, onde seguiu atuando na sala de vacinação.

Atualmente, Adélia trabalha na área de epidemiologia e imunização na gestão da SMS, onde está desde 1990. Com especialização em Saúde Pública pela Fiocruz, Adélia também teve passagens pelo Instituto Nacional do Câncer e o Hospital Federal de Bonsucesso. Diabética e hipertensa, Adélia precisou trabalhar em home office durante a pandemia.

‘É o início da virada’, diz Castro, que conta também com a Astrazenica

Durante a cerimônia, o governador em exercício Cláudio Castro afirmou que o Cristo, principal cartão-postal da cidade edo estado, representa o amor e a vida, e que, por isto, é tão significativo começar a vacinação aos pés do monumento.

— Esse é um plano nacional. Em que cada brasileiro importa. Quase dois terços dos governadores decidiram começar. Ao fim dessa fase, seremos um dos cinco países que mais vacinaram. Isso é muito importante. Mais de 27 mil fluminenses tiveram vidas ceifadas nos últimos dez meses. Nos organizamos bem. A logística de entrega das seringas deu certo no fim de semana, mas estamos aprendendo com nossos erros. O resultado dessa vacinação será um sucesso — disse.

O governador em exercício reforçou que não importa de qual país vem o imunizante.

— Não importa se vem da China, EUA ou Inglaterra. Foi aprovada pela Anvisa. Temos que confiar nos nossos técnicos. Estamos esperando tanto a vacina da Astrazenica, quanto a do Butantan. Esse é o início da virada.

Paes agradece Dória e fala em luz ‘tímida’ no fim do túnel

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também se pronunciou após o ato simbólico de início da vacinação no Rio. Ele agradeceu ao governador de São Paulo, João Dória, por ter adiantado o processo, e pediu que cariocas confiem na ciência.

— A vacina é uma luz no fim do túnel. Ainda tímida, mas é o início do que queremos. Se não fosse o apoio do governo do estado, a prefeitura não teria segunras para fazer a vacinação. É uma honra estar ao lado do governador Castro. E (gostaria de) agradecer, também, ao governador Dória, por adiantar esse processo. Impacta para salvar vidas. É importante que brasileiros e cariocas confiem na ciência.

Ao lado do governador em exercício Cláudio Castro, aliado do presidente Jair Bolsonaro, o prefeito, Paes também atribuiu a João Doria o comando da iniciativa.

— Não poderia deixar de parabenizar e agradecer ao governador João Doria de São Paulo, que comandou esse processo junto ao Butantan, e permitiu que a gente pudesse ter essa iniciativa do Butantan e CoronaVac.

Paes acrescentou que sua esperança é de que a vida volte ao normal em alguns meses.

— O que importa é que governos trabalhem juntos, sem vaidade. Ainda vivemos uma pandemia. Isso aqui é uma esperança para que em alguns meses voltemos à vida normal. Busquem não aglomerar, as vezes é difícil, e usem máscaras.

Na capital, mais de 110 mil pessoas devem ser imunizadas na primeira leva

Na capital, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou que há uma logística preparada para, tão logo a vacina chegue, em 36 horas as doses estejam nos 450 pontos de vacinação. A capital deve receber 231.840 doses, imunizando 110.470 pessoas. Serão aplicadas duas doses do imunizante, com intervalo de 28 dias. A vacina foi aprovada no domingo para uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O estado recebe 487.520 doses neste primeiro momento, que serão aplicadas em 232.521 pessoas de grupos prioritários, dos quais idosos com 60 anos ou mais e pessoas com deficiência que estejam em abrigos, povos indígenas vivendo em terras indígenas e trabalhadores da Saúde. Inicialmente, a vacinação estava prevista para começar na quarta-feira, dia 20, mas foi adiantada.

fonte: extra