Início Polícia Viúva de Wilson Moisés relata ameaças de morte antes do assassinato

Viúva de Wilson Moisés relata ameaças de morte antes do assassinato

Shayene Cesário, musa da Portela, disse que a filha de 9 anos também foi alvo de intimidação por parte de bandidos

Enterro do ex presidente Wilson Moisés da escola de Samba Vila Isabel aconteceu no cemitério Jardim da Saudade em Sulacap. Na foto, a viúva Shayene Cesário.Pedro Ivo/Agência O Dia

Rio- O corpo de Wilson Vieira Alves, o Moisés, ex-presidente da Vila Isabel, foi enterrado no início da tarde desta terça-feira (27), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio. Ele foi morto a tiros neste domingo (25), na Barra da Tijuca, quando estava a caminho da quadra da Portela, em Madureira, com a mulher, Shayene Cesário, e a filha do casal, de apenas 9 anos.

Durante o sepultamento, a viúva, que é ex-participante do reality ‘A Fazenda 5’ e musa da Portela, muito emocionada, descreveu como um ato covarde a morte de Moisés e ainda relatou que ela e a filha sofreram ameaças nos últimos dias.

“Meu marido era um cara muito tranquilo, ele não andava nem com segurança, ele foi pego na covardia, com um tiro nas costas e eu não tive nem como socorrer. Fiquei desesperada pela minha vida, da minha filha e por ele. Minha filha tem nove anos e ela recebeu uma mensagem muito pesada dizendo que iam tirar a vida dela e a minha, ela ficou muito assustada. A gente teme a violência, ainda mais depois desse baque”, disse .

Ela ainda contou como está a filha após presenciar o ato e lamentou a perda de um bom pai e bom marido. “Minha filha estava junto, ela ficou muito assustada, ela nunca tinha visto a violência de perto, ela nunca viu nada de ruim, ela vivia em um mundinho de conto de fadas, de princesa e de Papai Noel. Foi muito triste, eu saí correndo e, no desespero ela perguntou o que tinha acontecido com o papai. Moisés era um cara que sempre estava do meu lado, a gente não se desgrudava, ele me apoiava, meu parceiro, meu amor, um maridão e um paizão”, disse.

Em relação ao Carnaval, Shayene disse que a história de Moisés não tem como ser apagada.

“São muitos carnavais, a Vila Isabel cresceu sob o comando do Moisés, ele fez três títulos importantíssimos, uma história que não tem como ser apagada, ele era um grande líder. Estou sem chão, dilacerada, tiraram a minha felicidade, minha família, dias com ele em casa, dormindo e acordando (…) eu fazia tudo com ele, a gente ficava muito junto, ele me amava muito e eu amava muito ele”, afirmou.

Durante o sepultamento, amigos e familiares cantaram sambas da Vila Isabel, como “Sou da Vila e Não Tem Jeito”, exaltando a agremiação, e “Soy loco por ti America: a Vila canta a latinidade”, de 2006, ano em que Moisés assumiu a presidência e levou a escola ao título do grupo especial. Sob o caixão, uma bandeira do Fluminense, time do coração de Moisés.

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Quem esteve no enterro foi Nilce Fran, coordenadora da ala de passistas da Portela e ex-madrinha de bateria da agremiação.
“Ele amou a Vila Isabel, dedicou a vida junto com a família. Eu, como portelense, sei o que é amar um pavilhão e foi exatamente o que ele fez. Era um cara amigo, irmão, parceiro. Estou muito triste, estou perdendo um grande amigo. Eu conheço a maior dor do mundo, que é perder o único filho, mas o Moisés, realmente, me deu uma dor no peito que a muito tempo eu não sentia”, disse, emocionada.

O atual Rei Momo do Carnaval carioca Wilson Dias Neto também prestou homenagem ao velho amigo da escola. Ele disse que a agremiação está de luto e que o Carnaval perdeu uma grande figura e um bom entendedor da manifestação cultural.

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“Venho me despedir com o coração repleto de gratidão a uma pessoa que me ajudou muito, o representante da maior manifestação cultural do mundo, o carnaval carioca. É uma perda lastimável, o carnaval perde um bom entendedor. O carnaval está de luto, a Vila Isabel também está de luto”, revelou.
Tia Surica, presidente de honra da Portela, também esteve presente e lamentou a morte. “Ele foi um amigo, um parceiro e mais um que se perde no mundo do samba, que Deus clareie e ilumine o caminho dele. Ele era meu amigo de verdade, eu frequentava a casa dele e ele a minha”, afirmou.
Regina Celi, ex-presidente do Salgueiro, prestou solidariedade à família e definiu Moisés como uma pessoa forte, guerreira e grande amigo. O representante da Velha Guarda da Vila Isabel, Lenilson Osório Dutra, 71 anos, também esteve no sepultamento.

“Moisés representava tudo, era a cara da Vila Isabel, ele foi o maior vencedor que teve na quadra da Vila. Era uma pessoa amável, amiga, que sempre trabalhou pelo e para o Carnaval, sempre com o propósito de fazer um belo desfile e era muito amigo da Velha Guarda”, lamentou.

Por fim, Alex de Oliveira, ex-Rei Momo, desejou força à família e agradeceu a Moisés.

“O Carnaval é resiliência, ele é um símbolo de superação, ele chegou para implementar uma nova estrutura da escola, para readequar o espaço e trouxe o seu conhecimento e expertise dele e isso foi fundamental para transformação da Vila. Um cara de coração nota 1000, ele era anfitrião, sabia administrar, fez a escola ter visibilidade pro mundo, então a gente perde muito, desejo muito força pra família e é só agradecer”, finalizou.

Problemas com a Justiça

Em 2010, Moisés foi preso por corrupção, contrabando e formação de quadrilha enquanto ainda presidia a escola de samba, durante a Operação Alvará, da Polícia Federal, que combatia a exploração de máquinas caça-níqueis em Niterói e São Gonçalo. Em 2012, conseguiu um habeas corpus e foi solto. Na época, seu filho, Wilsinho Alves, assumiu a presidência da Vila Isabel.

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